segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

ASSIM NINGUÉM FICA SEM NADA


Basta abrirmos o jornal, e as notícias descem em cascata diante dos olhos. São de todo tipo. Trágicas, “normais” (porque se sucedem e se parecem muito a cada dia), e as cômicas, ou bizarras, ou ridículas... Pessoalmente, simpatizo mais com as últimas. É que elas são meio caminho andado para escrever histórias.



O que a literatura tem a ver com o desfile diário de fatos narrados pela imprensa? Bem, esta pergunta me persegue há algum tempo. Acredito que a literatura e a realidade não se afastam, ao contrário, se complementam. E, também, que o momento presente está repleto de acontecimentos que reivindicam outras (novas) interpretações, a fim de ser melhor compreendidos. Assim, faço abaixo uma tentativa de entender o que tramam nossos personagens, reais e/ou fictícios, nas colunas dos jornais.


ASSIM NINGUÉM FICA SEM NADA



Professor universitário, John dedicou boa parte dos últimos vinte anos de sua vida para compreender os malefícios da sociedade capitalista. De sua casa para a universidade, da universidade para a academia de ginástica, dessa até sua casa, muitos livros de Marx o acompanhavam.


Enquanto pedalava e caminhava na esteira, seus neurônios debatiam-se em busca do título que daria para uma palestra – tinha sido convidado por uma escola para falar aos jovens alunos sobre o seguinte tema: O egoísmo da sociedade capitalista – sua superação rumo à utopia da solidariedade.


Ao retornar do shopping, onde comprara um presente para sua companheira, professora, e outro para seu filho, no dia da criança, foi vítima do primeiro assalto de sua vida. O bandido se aproximou e anunciou o roubo. Assim que recebeu o dinheiro (uma nota de 50 reais), retirou de sua carteira o troco (uma nota de 20 reais).
- Assim ninguém fica sem nada - explicou o ladrão, alcançando o dinheiro.


Ao entrar no prédio, ainda meio tonto com o que presenciara, John prometeu, ao silêncio e à desordem de seus neurônios, que iria rever, com urgência, suas teorias. Apenas acenou com a cabeça ao cumprimento do porteiro. De sua boca som nenhum saía.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...