quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

COM QUE ROUPA EU VOU...

Depois de revirar no balaio as experiências 
que juntei durante o ano
constatei que pensei mais 
com o estômago
pensei mais com o bolso
pensei mais com os outros
pensei mais com as manchetes de jornais.

Suo frio a cada campanha na TV,
desde educação para o trânsito
até os "preserve!", "respeite!", "não maltrate!"...

E ao imaginar uma arte
meu superego se inflama
e põe pra trabalhar
meu sentimento de culpa.

Não sei se devo levar a sério
as notícias de catástrofes
ou se devo permanecer indiferente
e me recolher no mundo da literatura...
Enquanto isso a TV 
superdimensiona os fatos
para ter mais IBOPE 
e me entope com propaganda 
de comida industrializada
cerveja e refrigerante...

Tantos ângulos, recortes, 
efeitos especiais e montagens
vestem meu caráter
e dizem qual deve ser
minha visão de mundo
e minha disposição 
pra encarar isso tudo...
Hoje eu não me pergunto:
"Onde estou?", "para onde vou?"
Vestido desse jeito
tenho até vergonha de perguntar:
"Com que roupa eu vou?"

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...