sábado, 12 de fevereiro de 2011

Leitura - Adélia Prado




Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.



As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha


de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas


fora do seu tempo desejadas.


Ao longo do muro eram talhas de barro.


Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo


que lá fora o mundo havia parado de calor.


Depois encontrei meu pai, que me fez festa


e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,


os lábios de novo e a cara circulados de sangue,


caçava o que fazer pra gastar sua alegria:


onde está meu formão, minha vara de pescar,


cadê minha binga, meu vidro de café?


Eu sempre sonho que uma coisa gera,


nunca nada está morto.


O que não parece vivo, aduba.


O que parece estático, espera.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...