domingo, 5 de outubro de 2008

Adoro as pizzas e os salgados da padaria do meu bairro. Mas desconfio que o meu pai goste bem mais! Quando vai até lá, ele sempre visita o freezer, onde são guardadas as pizzas, e o balcão dos salgadinhos.

Pizza tem que ser de frango. Acho que comecei a gostar com ele. A primeira coisa que ele faz é olhar a data de fabricação. Quanto aos pastéis, risolis, cochinhas, pão de queijo e croquetes, ele pergunta se foram feitos naquele dia. A moça que atende faz uma careta e responde sempre que sim.

Acho que meu pai tem medo de comer coisas estragadas. Ah, tem a ver com os recortes de jornais que ele guarda falando dos alimentos saudáveis e dos vilões – para o coração, rins,
pulmões, baço, fígado... E aí, ele não faz economia nos conselhos que me dá para me alimentar bem.

A quantidade de chás que ele compra é de fazer inveja a qualquer curandeiro. Parece que faz coleção. De tantos tipos que ele tem, a maioria perde o prazo de validade, sem ele ter usado.
Mas a sua maior paixão é o alho. Ele descobriu que o alho é ótimo pra saúde. Não é que ele mastiga o dente de alho a qualquer hora do dia? Precisa ver a cara que ele faz! Ele prende a respiração, dá umas quinze ou vinte mastigadas bem rápidas e vai correndo tomar um copo d’água.

Acho que os vampiros querem distância de meu pai... Ele deve fazer parte da lista de pessoas que não são bem-vindas na sociedade vampiresca .




Meu pai deve ter mascado muito chicle quando era criança. Hoje ele quer me assustar, dizendo que o chicle foi feito com as patas do cavalo.


Porém, quanto ao sorvete, nem preciso pedir para irmos à sorveteria. É ele quem convida a gente. Claro, ele leu numa tal de “Vida e saúde” os benefícios do sorvete para o organismo, além da alegria e das lembranças (meio poéticas?) que tomar sorvete traz. Nessas horas ele sempre fala das coisas de antigamente. Não sei por que mas, para meu pai, antigamente tuuuuudo era melhor!

Ele gosta de falar dos cheiros das coisas, no tempo de criança. Do pão feito no forno de tijolos e barro, cheiro de puxa-puxa e de açúcar no tacho, cheiro da uva madura depois de uma chuva de verão... Ah, e o cheiro da óstia de toda missa de domingo. Se ele não ía pra missa, estava proibido de jogar futebol!


Quando não estou jogando futebol, vou à padaria com meu pai. É que ele me deixa gastar, com o que eu quiser (desde que não seja chicle), 0,99 de cada vez. E, é claro, adoro ver ele perguntar pra moça se os salgados “foram feitos hoje?”, e ver a carranca que ela faz quando responde que sim.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...