segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

PAULO HENRIQUES BRITTO - Macau




Carioca, é professor e tradutor, e ganhou com o livro MACAU, em 2004, o prêmio Portugal Telecom de Literatura. “Ancorado no cais raso da subjetividade, o poeta procura reter a fragilidade do mundo com a ponta dos dedos”.

Diz a CONTRACAPA DO LIVRO:
A subjetividade é um porto de onde não é fácil se desprender, mesmo para aqueles que se lançam à descoberta de novas paragens – tais como Macau, lugar ao mesmo tempo estrangeiro e familiar. O trabalho poético de Paulo Henriques Brito, indissociável do ritmo diário, obedece menos à inspiração, mais à oficina e ao suor. Essa necessidade orgânica do ato criativo denota um impulso de, por meio da subjetividade, arranhar a opacidade das coisas, atendendo ao incômodo – mas inescapável – impulso de endereçar ao mundo uma carta íntima.

TRÊS EPIFANIAS TRIVIAIS (II)

As coisas que te cercam, até onde
alcança a tua vista, tão passivas
em sua opacidade, que te impedem
de enxergar o (inexistente) horizonte,
que justamente por não serem vivas
se prestam para tudo, e nunca pedem

nem mesmo uma migalha de atenção,
essas coisas que você usa e esquece
assim que larga na primeira mesa –
pois bem: elas vão ficar. Você, não.
Tudo que pensa passa. Permanece
a alvenaria do mundo, o que pesa.

O mais é enchimento, e se consome.
As tais Formas eternas, Idéias,
e a mente que as inventa, acabam em pó,
e delas ficam, quando muito, os nomes.
Muita louça ainda resta de Pompéia,
mas lábios que as tocaram, nem um só.

As testemunhas cegas da existência,
sempre a te olhar sem que você se importe,
vão assistir sem compaixão nem ânsia,
com a mais absoluta indiferença,
quando chegar a hora, a tua morte.
(Não que isso tenha a mínima importância.)

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...