segunda-feira, 26 de outubro de 2009

DO LIVRO "TUDOS" - Arnaldo Antunes



Estou cego a todas as músicas,
não ouvi mais o cantar da musa.

A dúvida cobriu a minha vida
como o peito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
como a língua cobre de saliva
cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida

como o sangue cobre a carne crua,
como a pele cobre a carne viva,
como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...