segunda-feira, 17 de maio de 2010

A vingança das abelhas


A notícia foi publicada há uma semana, mas só me deparei agora porque o jornal foi colocado no banheiro, no lugar de um tapete que estava secando no varal. Abelha vai fazer falta, diz seu título. Os americanos estão preocupados com o desaparecimento das abelhas. Está diminuindo a polinização de lavouras nos EUA. No Brasil, estudos indicam que a produtividade é muito maior em áreas próximas à fauna e flora preservadas.

 Mesmo encarcerado à intimidade do banheiro, onde posso me desligar do mundo exterior, a colisão com a notícia mexeu comigo, e esse contato com a sina das abelhas deixou-me pensativo e com um certo sentimento de culpa.



É que eu tenho um quintal enorme, com árvores enormes, quase uma micro-floresta. Meu vizinho dos fundos, não sei se por convicção ou se para competir comigo, deixa também seu quintal florescer. Na minha ingenuidade de cidadão preso aos direitos e deveres, perco o sono só de pensar que um enxame de abelhas “sem floresta” invada e tome posse de meu quintal. Se isso acontecer, será que a justiça vai me conceder reintegração de posse?


Mas a constatação de que ao ler o jornal muita coisa passa despercebida também me deixou intrigado: com tanta informação diária, não tem como filtrar e guardar tudo. Só que essa notícia (ínfima) sobre a realidade das abelhas e sua importância para o futuro da humanidade é de tirar o sono. Por outro lado, não posso transformar o santuário que é o banheiro em mais um lugar de estresse. Nele, fomos educados para evacuar, de maneira prazerosa se possível, tudo que recolhemos no percurso do dia, mas que não nos serve mais.


Só que a notícia sobre as abelhas veio mostrar que muitas notícias de jornal não são descartáveis só porque amanhã virá outra edição mais atualizada no seu lugar.


É por isso que me dá arrepios só de pensar que, mesmo dispondo de toda a parafernália atual de informática, nem por isso terei garantida a inspiração e criatividade suficientes para escrever algo significativo. Aliás, é a velha angústia de ter que enfrentar uma folha em branco, impassível e indiferente.


Enquanto centenas de folhas impressas de jornal diariamente vêm chamar minha atenção, não há nenhum rastro de abelhas por aqui (graças a Deus!). Mas isso poderá significar o meu/nosso fim e de todo o planeta.

O PATIFE tá enrolando de novo

Quando fui acertar a conta no bar, pendurada nos últimos dias, o bolicheiro não encontrou, no caderno, o meu nome. Ao repassar a longa l...