quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O buraco do tatu - Sergio Capparelli



O tatu cava um buraco
a procura de uma lebre,
quando sai pra se coçar,
já está em Porto Alegre.


O tatu cava um buraco,
e fura a terra com gana,
quando sai pra respirar
já está em Copacabana.


O tatu cava um buraco
e retira a terra aos montes,
quando sai pra beber água
já está em Belo Horizonte.


O tatu cava um buraco,
dia e noite, noite e dia,
quando sai pra descansar,
já está lá na Bahia.


O tatu cava um buraco,
tira terra, muita terra,
quando sai por falta de ar,
já está na Inglaterra.


O tatu cava um buraco
e some dentro do chão,
quando sai pra respirar,
já está lá no Japão.


O tatu cava um buraco
com as garras muito fortes,
quando quer se refrescar
já está no Pólo Norte.


O tatu cava um buraco
um buraco muito fundo,
quando sai pra descansar
já está no fim do mundo.


O tatu cava um buraco
perde o fôlego, geme, sua,
quando quer voltar atrás,
leva um susto, está na Lua.

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...