domingo, 19 de junho de 2016

Forever



Dizem que o boom da vida
é ter rodas esportivas
e passear a todo som.
Mas a top realidade
anda frágil de amor.

Não acredito no forever
porém há séculos estacionei 
no teu olhar.

Óvnis estão chegando 
e sua verdade é um mistério,
não sei se vamos nos dar bem.

Parece haver harmonia 
em vários sóis
e iremos de cá pra lá
como vamos a um jardim.

A ficção científica é real
mas não consigo viajar
nesse futuro redentor.

Gabaritei astronomia
devorei ufologia
e na minha biologia
flor é semente e flor.

Na retina do meu olho
a paixão botou ferrolho
e não consigo escapar
desse sonho milenar
de que você é meu amor!


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Dar de ombros


Já estava sem sede
e a vida não é só balada
mesmo tarde se entende
que sofrer não leva a nada.

Em vez de cair na rede
vá nadar em outras águas
com o tempo você aprende
a escutar sem dar palavra.

Apenas um dar de ombros
um dane-se foda-se
e mais nada!


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Albert Camus


Um adolescente me perguntou sobre Camus. O "cara" foi citado numa música de uma banda que ele gosta. O jovem não sabia a pronúncia... "Se escreve 'Camus'?". Disse-lhe que a pronúncia é em francês, "Cami". Contei um pouco do que sabia desse grande escritor, inclusive uma das suas frases mais citadas... 


Status



domingo, 12 de junho de 2016

A doida fez poesia


Cada passo com o salto alto, com a bíblia na mão direita erguida, a doida foi  poeta e não sabia.
Às vezes não sei que faço. Às vezes você não sabe o que faz. Nem a velhinha, o aposentado, no caixa eletrônico necessitando ajuda para sacar o pouco dinheiro, às vezes não sabem o que fazem. Nem para onde devem ir. Às vezes saímos em busca da multidão e não queremos encontrar ninguém. Às vezes queremos um palco, olhares e ouvidos sintonizados, como aquela doida na sexta-feira de tarde.
A doida subiu no palanque da praça, diante do prédio da prefeitura e dos carros e pessoas que circulavam. Fez um discurso. Compreendi alguns fragmentos: “Chegará o dia...” “Lembrai-vos dele...”. Usava um vestido longo, coberto por uma capa colorida e calçava salto alto. Daí a pouco partiu em direção à avenida, a mão direita erguendo um livro, que parecia ser a bíblia. Agora cantava e sua voz fazia bem aos ouvidos.
Aguardava minha hora no dentista e a performance dessa mulher, de uns trinta e poucos anos, chamou-me a atenção. 
Será que isso tem algo a ver com a poesia? Considerei que sim, pois ambas fogem dos clichês cotidianos. A poesia não faz o que costumeiramente fazemos, que é enquadrar uma cena como essa, definindo-a como normal ou anormal. Talvez a poesia (e a literatura) sejam primas-irmãs da loucura.
Enquanto a mulher descia pela avenida cantando e com a mão direita segurando tal livro, diante de uma farmácia um senhor e uma vendedora comentavam:
- Coitada, saiu do prumo.
- É. Tá fora do ponto.
Ao chegar em casa, zonzo com a cena que presenciara, perguntei a alguns poetas sobre o que é a poesia. Para maiakówsky, a poesia “é uma viagem ao desconhecido”.  Bem, pensei, faz sentido. Enquanto a doida viaja com naturalidade pelo mundo dos mistérios, convicta da sua e da nossa redenção, a poesia se espanta ao ver isso e, com versos, pinta imagens de tal momento. Podemos dizer que a poesia sente-se em casa quando a realidade gera espanto, isto é, deixa de ser previsível.
Goethe diz que a poesia “fala do infalável”. Sendo assim, penso que tanto a doida quanto o poeta arriscam-se a mergulhar nas águas escuras e profundas do mar da linguagem e da realidade.
Para Fernando Pessoa, a poesia é “um fingimento, deveras”. Poxa, será que a doida não é doida coisa nenhuma?  Poderia estar fazendo uma performance teatral. Bom, de qualquer maneira tal fingimento produz maior espanto, assombro, do que a vida “normal”, mecanicamente planejada.
Se eu encarar tudo como sendo normal, creio que jamais serei poeta.

Para finalizar, diz Garcia Lorca que poesia é “lo impossible hecho possible”. Então é isso. Tanto a louca quanto o poeta vivem daquele acontecer (cotidiano) que sai do prumo ou do ponto. E se todos nós muitas vezes não sabemos o que fazemos, o mero espanto convida-nos a ser poetas.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Emoticons


Não quis ser indireto com ela. Não sei usar truques. Falei do mau tempo e que no meu reino as condições climáticas são imprevisíveis. Tentei obter pelo menos um Oi na conversa no facebook. Como seu silêncio me oprimia, escrevi Desculpe. Alguns segundos depois visualizei sua resposta. Um sinal positivo.
Ela é que foi direta, poeta. O mundo pipoca emoticons e você ainda vive tagarela. Quem se vira com suas emoções, economiza palavras.
Poeta, você não tem o direito de pensar que ela tem uma tristeza nervosa. E o mundo significa emoticons, só você não vê. E muitas garotas se atrapalham num oceano de emoções e não verbalizam aquela insegurança latente. Sossega, poeta, ela deve estar pensando Como anda solitário esse projeto de adulto infantil.
Ela não se tocou que o que senti podia ser amor. E amor, hoje em dia, significa tanto. Mas não delire. Você devaneia porque ficou frustrado. Enquanto esperava um coraçãozinho vermelho apaixonado, ela clicou no emoticon positivo.
Enganos acontecem todo os dias. Você se convenceu de que os poetas, bem como a fauna e a flora, estão em extinção. Ridículo. Você apenas não suportou a sinceridade de um emoticon.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

sábado, 4 de junho de 2016

Mantra


Penso nela e tenho uma puta coceira no nariz. A música salta na mente quando respiro devagar. Entoo um mantra e ela começa a desfilar. Respiro fundo relaxo e brotam peitos e bunda de lutadora de Muay thai. Estou perdido é certo por onde vou ela vai. Expia atrás das gôndolas do supermercado com lábios de batom exagerado a me chupar. Sou prisioneiro de um ciclo vital. Mais punheta mais insônia e sua bunda a desfilar. Respiro fundo relaxo e o mantra é Vem! Vem! Vem! Morro de vergonha por ser escravo dessas ideias num frio sábado de manhã. Enquanto isso a humanidade transpira velhos ideais. O marido penetra a esposa que não consegue gozar. Sua mente elabora a lista do supermercado e o presente que vai comprar pro aniversário do afilhado. Preciso arejar meu quarto botar as coisas no lugar. Aprisionar as masturbações e começar a meditar. Mostrar pra todo mundo que sou um cara feliz e que já deixei pra trás a coceira no nariz. É tanta ideia que surge até poderia ser poeta inovador. Mas hoje estou paralisado debaixo do cobertor. A comunidade me censura porque digo palavrão. Mas não consigo ser igual padre num domingo de manhã. Não sou comerciante prefeito ou vereador. Sou apenas xexelento aprendiz de sonhador.


(Tiradas do Teco, o poeta sonhador) 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Do lado de cá


Caminhei pelas ruas da cidade e cães estressados me xingaram atrás de altas grades. As cercas elétricas e os jardins cinzentos derrubam meus sonhos e esvaziam pensamentos. A betoneira da construção em frente me sacode no entardecer: preciso encontrar o que fazer quando crescer!
Em todas as ruas da cidade, cães raivosos me perseguem atrás de altas grades. Eles do lado de lá, eu do lado de cá. Do lado de fora não sei quem está.
Meus olhos e mente não mais se iludem: eu e todos os cães da cidade perdemos a alma e a dignidade!

Depois que decidir o que fazer quando crescer e agradar todo mundo – ser médico, administrador ou advogado – acatarei a vida com maior paciência, quando acabar essa adolescência.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Morre, diabo!


Diz um amigo:
Meu calvário 
foi
não ir pro seminário
masturbar de manhã cedo
ter muitas paixonites e amigos
e crescer longe 
dos livros.

Desse amigo 
sou o avesso:
quase sempre endiabrado
palidamente vermelho
fazendo caretas 
diante do espelho.

(Tiradas do Teco, o poeta sonhador) 

O crepúsculo de Van Gogh

As nuvens eram criaturas selvagens e ‒ ao mesmo tempo ‒ gatos, cães, jacarés e lagartos, perfilados no horizonte próximo. piscaram...